Páginas

sábado, 25 de junho de 2011

The Bell Jar - A Redoma de Vidro

Abro esta crônica com a capa do livro A Redoma de Vidro, esta é especial para mim, pois trabalhei com esta edição e, por gosto meu, acho a capa mais linda de tantas que existem espalhadas pelo mundo, as quais foram traduzidas em diversas línguas. Esta é de tradução de Beatriz Horta. E a cada novo parágrafo ilustrei com capas de The Bell Jar, de Sylvia Plath.

The Bell Jar ou como uma das traduções A Redoma de Vidro, o próprio título do livro, essa redoma, é o objeto que protege, que mantém seu protegido sob a curiosidade alheia e o exclui. A autora metaforiza essa redoma como uma espécie de aprisionamento do sujeito, um descontentamento em relação ao próprio “eu” da personagem.
Quando se fala de The Bell Jar , a crítica especializada, salvo!,sem generalizar, o rotula como um romance autobiográfico, confessional devido a muitas passagens coincidentes entre o que a autora viveu e o que está na narrativa, diga-se, as tentativas de suicídio, a brilhante aluna que recebe bolsas, a editora de uma revista de Nova Iorque, o desgaste mental, as clínicas psiquiátricas entre outros acontecimentos que Sylvia Plath vivenciou e que transferiu para sua protagonista Esther Greenwood no romance.
O fato é que Sylvia o cunhou como um romance de ficção. E acredito que a palavra do autor deve ser levada em consideração. O mais importante é que Sylvia abordou temáticas diferenciadas para a época, por essa razão o livro se torna tão importante. O grande legado do romance de Sylvia foi anunciar alguns temas tabus que faziam, principalmente, jovens e mulheres se sentirem mais abertos aos assuntos inseridos na trama para se desdobrar na realidade desses leitores.
Sylvia, em The Bell Jar, explorou muito bem os ritos de passagem, a formação da personalidade do indivíduo, como também, uma vez formada, essa personalidade se deteriorava mentalmente, ou se dividia em outras personalidades, daí a dupla personalidade, um desvio, algum tipo de transtorno mental. Sylvia também contesta a univisão feminina da década de 50, onde a ascendência do feminino acontecia sob a forma de cursos para moças e iniciação ao casamento e posteriormente, a ser a dona de casa perfeita e mãe como consequência. O romance rejeita esse modelo de feminilidade e a tradição casamento/família. Se a sociedade havia criado seus costumes, o romance os descontrói. As expectativas dessa mesma sociedade romantizavam e glamourizavam os relacionamentos, homens e mulheres deveriam experimentar o romantismo, o que Sylvia mostra totalmente ao contrário na narrativa, sua personagem só encontrou hipocrisia, a brutalidade dos homens ou as desconfianças dos mesmos para com as mulheres, o que gerava todo um desconforto físico e crescente ao desgaste mental.
É desta forma que Sylvia faz soar em sua narrativa a campainha emergencial para a problemática feminina, ou seja, a mulher está presa em departamentos, ou é aluna brilhante, ou a esposa dedicada, a mãe perfeita ou a mulher submissa, sob sua ótica a mulher está sempre entre a polaridade de virgem ou prostituta, nunca a mulher em sua plena satisfação, seja como indivíduo ou em relação à sua sexualidade. O vazio de expectativas e o grito da convencionalidade da mulher americana caem por terra no romance. Sylvia prefere a pluralidade feminina, as várias identidades em uma só mulher.
O que salta do romance é a observação meticulosa que a autora faz sobre as instituições médicas ou psiquiatras, seria a eterna crítica, a narrativa informa os ambientes hostis, os médicos soberbos que são incapazes de saber ouvir a protagonista, que se submete a vários tratamentos insatisfatórios e dolorosos, a falta de sensibilidade dos médicos homens com pacientes mulheres, até mesmo o que Esther não acreditava existir, mulheres psiquiatras. Sylvia chama a atenção no romance sobre as terapias duvidosas, desumanizadas e, sobretudo, para a terapia de eletrochoque, que por um lado fazia com que sua Esther se esquecesse de coisas ruins ou que não usasse o corpo para automutilação, mas que por outro lado esvaziava sua mente e colocava sua inteligência à margem daqueles que não fazem mais parte da sociedade “sadia”.
Sylvia enriquece a narrativa dentro de seu ponto de vista como mulher, nem tudo é cinza ou sombrio, há também suas cores solares, a ironia, a graça, as sutilezas e humor ácido também pelas circunstâncias da época em que escreveu o romance. Foram vários olhares, centralizados e periféricos. Uns mais voltados para vários personagens, mas claro que o olhar centralizador é para Esther que transita na corda bamba, na ponte pêncil, no trampolim que, vez ou outra, a lança para dentro e fora dessa redoma!


Sandra Puff

2 comentários:

  1. Bom dia Sandra querida!
    Adoero vir aqui, vc sempre com lindos textos que me ajudam a ser mais coltural!
    Estarei sempre aqui te acompanhando.

    Um beijo bem grande e bom Domingo te desejo.

    ResponderExcluir
  2. Helloo, José Jornalista!
    Deixei um comentário em seu 14 capítulo - jornalismo e história.
    Se você diz que adora vir aqui porque é cultural, quem sou eu para discordar, não é? Só tenho a agradecer.
    Bons dias e abraço de cá.

    ResponderExcluir

Obrigada!, Seu comentário sempre é importante!