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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sobre as Máscaras

Máscara - 1905 - Guache sobre Madeira
Louis Welden Hawkins

A máscara pode ser representada de duas maneiras, denota um acessório para cobrir o rosto e tem variados usos, desde os artísticos, veja-se o teatro, lúdico, já na infância as crianças fazem uso das máscaras de seus heróis preferidos, ou mais remoto, o uso de máscara nos bailes, seja nos bailes em festas privadas ou ao ar livre, como em carnavais. O tradicional carnaval de Veneza expressa bem essa arte, é uma tradição que o rosto fique coberto por belíssimas máscaras, um jogo de sedução e anonimato.
A máscara pode ser também uma denotação de proteção literal para quem a usa, como exemplo as máscaras de oxigênio.
Em muitas tribos a máscara passa a ser uma representação para o rito de passagem entre a vida e a morte. Há muitas representações conotativas para a máscara, seja usada como um disfarce, e até mesmo como um símbolo de identificação, uma representante de deuses, espíritos da natureza, seres míticos, sobrenaturais ou animalescas. É o rito de transfigurações, o encobrimento da real identidade.
Os latinos entendiam a palavra máscara como uma derivação de mascus ou masca, que tinha o significado de fantasma, já na cultura árabe a maskharah entendia-se por homem disfarçado ou o palhaço. Não é de se estranhar que o palhaço se disfarça e cobre seu rosto. Talvez, seja dessa natureza que a máscara deixa de ser um simples adereço e torna-se um significante enganoso.
Nos dias atuais percebemos em quadrinhos ou em filmes de heróis ou vilões que a máscara não tem só a função de encobrir uma identidade e sim transformar a vida de quem as usa. Explicitamos que cada super- herói usa uma máscara, ou seja, assim que a coloca ele se torna um outro, que não é o mesmo, torna-se um diferente e passa a ter poderes e sua identidade resguardada. Outro é o fantasma da ópera, que por vários motivos físicos e existenciais torna-se um ser protegido pela máscara. Tomamos como exemplo bem atual os internautas que usam avatares para que não se descubra quem realmente o são. Dessa forma, esse objeto, um mero adereço, é transformador, seja de caráter enganoso ou que resguarda a quem o usa.
De qualquer forma, o uso da máscara tem por objetivo alguma proteção, disfarce, intencionalidade de acobertamento ou mesmo o apagamento do real. Pode-se dizer um abando de si mesmo. “O afastamento de si mesmo, o qual sempre acaba por confirmar o seu próprio eu, é igualmente perceptível no afastamento dos outros que não a si próprio, quando parece que estes são ao mesmo tempo indesejáveis e semelhantes”.1

Sandra Puff

REFERÊNCIAS
1 ROSSET, Clément. O real e seu duplo: ensaio sobre a ilusão. Op. cit., 1976, p. 69.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Os 90 Anos da Semana de Arte Moderna


Capa do catálogo da Semana de Arte Moderna por Di Cavalcanti

Vinte anos após o acontecimento da Semana de Arte Moderna de 22, Mário de Andrade afirmou em uma conferência que, "O Modernismo, no Brasil, foi uma ruptura, foi um abandono de princípios e de técnicas consequentes, foi uma revolta contra o que era a Inteligência nacional"1
E foi, não foi?2
Essa ruptura que Andrade cita quebra de vez com a universalização da cultura importada. É certo que os campos das artes culturais e literárias, uma década antes, já se esboçavam a traços finos pelos pré-modernistas, porém ainda permanecia o academicismo e muito apego ao tradicional clássico, diga-se ao Parnasianismo com seus objetivismos puristas, seus mitos greco-romanos, o apreço aos versos regulares ao sabor da forma fixa e métricas decassílabas. O descrever da linguagem formal e rigorosa, ou seja, era o praticar da arte pela arte. Mas, querido leitor, não leia pelo modo de uma crítica isolada minha, são os fatos, ao Parnasianismo, nem ao digníssimo Olavo Bilac3, aliás, eu gosto muito do poema Ouvir Estrelas, “Ora ( direis) ouvir estrelas!Certo/ Perdestes o senso!” E eu vos direi, no entanto,/ Que, para ouvi-las, muita vez desperto/ E abro as janelas, pálido de espanto...”4 Ah!, eu adoro!, mas voltemos à Semana de Arte Moderna, que ocorreu entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, ou seja, há 90 anos, foi o que se pode dizer do antes e depois, um divisor que não provocara mudanças imediatas, pois acontecimentos importantes já se iniciavam antes, mas sim o ápice dessas mudanças que, vista isoladamente, não deu-se muito crédito a ela, nem mesmo os jornais daquela época lhe dedicaram muitas colunas. A Semana era vista como um desejo de liberdade dos artistas e escritores.
E, ao decorrer da história a Semana ganha uma enorme notoriedade, uma vez que fez a junção dos artistas de São Paulo e Rio de Janeiro e estes desmistificaram a cultura brasileira, por assim dizer, abriram as cortinas de várias tendências e renovações que estavam acontecendo no cenário brasileiro, o qual fez outros artistas de cidades variadas que estavam à margem juntarem suas forças, ou seja, toda forma de arte. Foi nesse momento que a Semana de Arte Moderna marca para sempre as páginas da Literatura Brasileira, pois essa junção de vários artistas em diversas modalidades como autores, músicos, arquitetos, os escultores, os grupos de dança conseguem de forma sólida trocar experiências, técnicas e muitas ideias, o que contribuiu de vez para publicarem revistas voltadas à arte em geral, manifestos foram publicados por grande grupo de intelectuais da época, enfim, permitiu-se que a cultura brasileira fosse ampliada a diversos departamentos e, o melhor, nossa cultura ganhou tal força que não ficou apenas na década de 20 e sim permanecesse na atualidade, nada a dever com o que se fazia na Europa. E não só isso, foi o momento decisivo para que nossa cultura atravessasse décadas e permanecesse tão atual quanto ela é hoje.


Sandra Puff


REFERÊNCIAS
1Conferência comemorativa dos 20 anos da Semana de Arte Moderna, 1942.
2Uma referência ao Poema, “Os Sapos”, de Manuel Bandeira, declamado por Ronald de Carvalho. O público gritava em uma só voz durante a declamação: “Foi, não foi”, o que faz um ritmo de imitação ao barulho do sapo tanoeiro.
3Olavo Bilac sempre fora criticado demasiadamente pelos Modernistas.
4Bilac, Olavo. Poesia. Rio de Janeiro: Editora Agir, 1957. p.47-8.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Sylvia Plath: humanamente mítica



Simples assim!, Complexa demais.  A poeta/escritora estadunidense Sylvia Plath completaria 80 anos não fosse sua trágica morte aos 30 anos. [Sylvia Plath, com todo meu respeito, foi a autora de minha dissertação de mestrado]
Relevantes são as obras que Sylvia deixou, conhecida como poeta, longa é a lista de sua escrita. A bibliografia de Sylvia Plath nos impressiona pelo fato de ter lançado dois livros em vida, The Collossus and Other Poems, (1960) e The Bell Jar, (1963) único romance, pouco antes do trágico fator a ser entendido. Os outros livros foram editados por Ted Hughes, poeta e marido de Sylvia.
A história trágica não era ficção, um romance lançado e a blondgirl, starlet agora, jazia em uma sala fria à espera das especulações que se formariam em torno da pessoa e da obra, mais da pessoa. Era a escrita plathiana a nos rondar. Uma espécie de escritos fantasmagóricos. Em torno das especulações, Sylvia, agora é morta, ganhou um Pulitzer póstumo, fato raro. Não só The Bell Jar, mas todos os escritos de Sylvia passavam, agora, aos mais vendidos, e mesmo que o romance encabeçasse a lista dos mais vendidos por um ano, as feministas tomaram as feridas da escritora transformando-a em um ícone martirizado ao ser retalhada pelos homens, em especial, Ted Hughes. Outra parte dos leitores do casal já declaravam que Ted havia tido sua vida destroçada por uma mulher desequilibrada e teria de suportar o violento ciúme de Sylvia, a americana superficial, que usava batom muito vermelho e o cabelo além de louro. Havia em Sylvia um ser sem nenhum senso de realidade, diziam as idólatras de Hughes, afinal ele também era escritor e havia conquistado seu lugar ao sol, sua fatia da legião de seus adoradores o defendiam e achavam que Sylvia poderia escrever muito bem mas não havia existência, tudo não passava de aparências.
Sylvia tornou-se famosa, assim como era sua ambição em vida, o montante de escritos nos dizem o quanto era determinada, numa disciplina diária  sobre vários temas. Tanto na poesia quanto na narrativa somam-se o esforço e qualidade na escrita, a força moral na recusa de muitos editores e as especulações que faziam sobre sua personalidade: louca, desequilibrada, ciumenta, extremista, histérica, autodestrutiva, isolada. O fato é que Sylvia tinha sua verve literária. O desejo de compartilhar suas experiências, angústias com o público somente os escritores capazes, profissionais, corajosos o fazem, pois sempre há as críticas, sejam as construtivas ou as que denigrem.


Assim que The Bell Jar debutou em janeiro de 1963, o uso do pseudônimo Victoria Lucas fez com que a crítica não associasse o romance à Sylvia Plath. O editor dos textos de Plath nos Estados Unidos não estava muito interessado na história, achava que era demasiado pessoal ou até um estudo de caso e as críticas não foram tão positivas quanto ela esperava. Sylvia achava que seu romance era mais um livro de boas vendas. Não foi bem assim, recebeu boas críticas, embora a maioria das críticas positivas viessem no post-mortem. Tarde demais!, mas assim como ousava  chamar-se, "A Lady Lazarus"  ressurgiu tão nova e tão boa em seus livros para a posteridade. 
Ah!, Sylvia era assim, tão simples!, mítica e humanamente complexa!

"Mesmo sob chamas ferozes pode-se plantar o Lótus Dourado" Bhagavad Gita [Epitáfio de SP]
Sylvia Plath - * 27/10/1932 - 11/02/1963



P.S. Quem quiser saber mais pode assistir ao filme: Sylvia, Paixão além das palavras.

Sandra Puff