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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Os Seus Olhos e a Cauda de Peixe

Atravessou a rua e nada mais poderia ser feito. Era a hora de sua internação no pequeno hospital psiquiátrico da grande cidade. Na bolsa miúda muita confusão de papéis, mas teria que achar os principais, aqueles que lhe dariam o direito de assistência à saúde pública. Achou o cartão contendo a autorização para a internação.
Ria sozinha, era tão inteligente, havia estudado, praticamente, a vida inteira, não fosse as interrupções forçadas para descanso no velho e conhecido hospital. Foram três vezes. Aos 16...21...25...ela estava com 28 anos e ainda não casara, aliás, quase casou. Um médico, oftalmologista, bem apresentável. Um tanto tímido, mas compreensível até o dia do terceiro internamento. Ele não podia entender, que por fora e por dentro sua noiva parecia tão sadia, mas alguma coisinha nas sinapses de seu cérebro disparava as conexões entre ser e estar saudável na medida que um médico de verdade gosta. Ela não era verdadeiramente a humana perfeita como queria ele. Abandonou-a. Fosse o que fosse é perfeitamente normal que um médico queira que seus semelhantes alcancem certo grau de perfeição, assim pensam alguns.
Mas, assim como as ondas da praia que vem e vão, o destino lhe colocara uma lua forte que mexia com a força das marés, então a onda vinha. Simplesmente vinha e com ela trazia o desequilíbrio tão indesejado.
Mesmo abandonada, tratada, civilizada ela continuava a guardar na caixa o vestido perfeito para o casamento que talvez nunca viesse a acontecer. Era assim, branco gelo, corte reto, miçangas eram as pétalas de bordados em flor junto de um miolo pérola. Forro de cetim perolado e por cima uma fina e translúcida camada de tule cristal. Nunca sairia da moda, o romantismo nunca sai de moda, pensava ela.
O vestido assim dobrado na caixa fazia parecer uma cauda de peixe com suas escamas cintilantes que iriam amarrotando-se e rachando com o tempo. Mas a onda estava chegando com força total e talvez alcançasse um pedaço da areia onde antes nunca havia chegado. Gostaria ela de ser mesmo um peixe e desaparecer na tormenta. Seria a glória da loucura!, mas não, - não, pensava ela. O mar tem seus momentos calmos e lúdicos, daria um tempo e, de certa forma, a deixaria em paz.
Ao menos naquele dia.

Sandra Puff

sexta-feira, 8 de março de 2013

Camilo Castelo Branco



Fonte: Google

Eu sempre gostei e gosto de crianças. Aos poucos a família cresce. Essa semana recebi notícias que mais um sobrinho(a) estaria vindo. Claro que crianças nos rejuvenescem, são fofas, vão crescendo e sendo os reizinhos ou princesinhas do lar, apenas temos que cuidar para não criarmos verdadeiros tiranos!, mas isso não vem ao caso aqui. Fiquei muito feliz com a novidade, porém a notícia já havia virado jornal de ontem, a nova era o suposto nome do bebê.
Entre três nomes que vi no noticiário do email, um chamou-me a atenção - Camilo(a) - Gosto desse nome, parece-me um daqueles nomes pomposos antigos bem ao estilo vintage. Mas fora os ares de época, lembrei-me do escritor português, nascido em Lisboa em 16 de março de 1825, Camilo Castelo Branco, assim ele é conhecido. Diz a história que sua vida foi muitíssimo conturbada, casou-se aos 16 anos!, casou novamente, teve filhos, foi boêmio, pela escrita e estilo fica claro que pertenceu ao Romantismo, alguns dizem que ao Realismo, verdade seja dita, Camilo escreveu muito, muito mesmo. Assim como um romântico apaixonou-se deveras. Era um boa gente.
E como um escritor em tempo integral, escreveu mais de 260 obras, entre elas, romances, comédias, poemas, ensaios, folhetins, traduções, cartas, prefácios e tanto assinava como Camilo Castelo Branco ou usava algum pseudônimo, um deles A.E.I.O.U.Y [o rapaz não era fácil, rs]. Camilo foi o primeiro escritor de língua portuguesa a viver de sua literatura, claro que ele fazia especulações, moldava-se aos gostos que estavam na moda. Esperto ele. Já entendia de mercado editorial.
Mas, ao falar em gostos, quero ressaltar duas obras: Amor de Perdição (1862), só não pense que tudo está perdido. Leia também: Amor de Salvação (1864).
E que venha Camilo(a)!

Sandra Puff