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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Os Diários de Sylvia Plath - 1950 - 1962



Já faz um tempo que li Os Diários de Sylvia Plath, até por uma questão de trabalho científico, porém é uma leitura nada científica. Trata-se de um diário escrito por Sylvia desde sua adolescência até tornar-se adulta.
Esses diários foram escritos à caneta, Sylvia tinha uma letra grande e redonda e parecia valorizar essa escrita toda em estilo rococó. Nesses diários, somam-se desenhos, ideias, assuntos para próximos livros, nomes de pessoas que gostava, características de pessoas e todo tipo de assunto que podia lhe passar à mente.
Eram vários diários encadernados separadamente. Com a morte da escritora, o espólio passou ao marido que cuidou de tudo, lançou vários livros de Sylvia, pode-se dizer que Sylvia Plath, a escritora de 2 livros em vida, fez sua imensa obra postumamente deixando tudo organizado.
Para publicar os diários, Ted Hughes, o marido de Sylvia, contou com a ajuda de Karen V. Kukil, com quem eu tive a grata honra de trocar e-mails, sim – ela, me atendeu prontamente para uma espécie de entrevista, algumas perguntas para meu trabalho. Foi muito simpática, afinal ela é uma pessoa muito ocupada e importante do Smith College, de Boston.
Karen V. Kukil em Homenagem para Sylvia Plath
E me contou que, The journals of Sylvia Plath – 1950-19621 foi muito aguardado, lançado em 2000 pela Anchor Books, em Nova Iorque. (Ed. Karen V. Kukil), e que, realmente, Sylvia Plath  manteve esses diários desde os onze anos até seus trinta anos.
Os Diários de Sylvia Plath falam por si. Karen Kukil, a curadora do Smith College de obras raras recebeu autorização dos filhos Frieda e Nicholas que detinham os direitos autorais das obras da mãe, o qual foi passado pelo pai Hughes que ajudou na orientação do projeto até meados de outubro de 1998.
Esse livro foi lançado no Brasil em 2004, intitulado, Os Diários de Sylvia Plath – 1950-1962, 836 páginas, com tradução de Celso Nogueira. O fato é que esses diários revelam e dão acesso às próprias palavras de Sylvia Plath, em que diz:

“— Amo as pessoas. Todas elas. Amo-as, creio, como um colecionador de selos ama sua coleção. Cada história, cada incidente, cada fragmento de conversa é matéria-prima para mim. Meu amor não é impessoal, nem tampouco inteiramente subjetivo. Gostaria de ser qualquer um, aleijado, moribundo, [...], e depois retornar para escrever sobre meus pensamentos, minhas emoções enquanto fui aquela pessoa. Mas não sou onisciente. Tenho de viver a minha vida, ela é a única que terei. E você não pode considerar a própria vida com curiosidade objetiva o tempo todo.”2   


Sandra Puff

REFERÊNCIAS
1 PLATH, Sylvia. Karen V. Kukil (org.). The journals of Sylvia Plath – 1950-1962. New York: Anchor Books, 2000.
2PLATH, Sylvia. Karen V. Kukil (org). Os diários de Sylvia Plath. Op. cit., 2004, p. 21.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Os Seus Olhos e a Cauda de Peixe

Atravessou a rua e nada mais poderia ser feito. Era a hora de sua internação no pequeno hospital psiquiátrico da grande cidade. Na bolsa miúda muita confusão de papéis, mas teria que achar os principais, aqueles que lhe dariam o direito de assistência à saúde pública. Achou o cartão contendo a autorização para a internação.
Ria sozinha, era tão inteligente, havia estudado, praticamente, a vida inteira, não fosse as interrupções forçadas para descanso no velho e conhecido hospital. Foram três vezes. Aos 16...21...25...ela estava com 28 anos e ainda não casara, aliás, quase casou. Um médico, oftalmologista, bem apresentável. Um tanto tímido, mas compreensível até o dia do terceiro internamento. Ele não podia entender, que por fora e por dentro sua noiva parecia tão sadia, mas alguma coisinha nas sinapses de seu cérebro disparava as conexões entre ser e estar saudável na medida que um médico de verdade gosta. Ela não era verdadeiramente a humana perfeita como queria ele. Abandonou-a. Fosse o que fosse é perfeitamente normal que um médico queira que seus semelhantes alcancem certo grau de perfeição, assim pensam alguns.
Mas, assim como as ondas da praia que vem e vão, o destino lhe colocara uma lua forte que mexia com a força das marés, então a onda vinha. Simplesmente vinha e com ela trazia o desequilíbrio tão indesejado.
Mesmo abandonada, tratada, civilizada ela continuava a guardar na caixa o vestido perfeito para o casamento que talvez nunca viesse a acontecer. Era assim, branco gelo, corte reto, miçangas eram as pétalas de bordados em flor junto de um miolo pérola. Forro de cetim perolado e por cima uma fina e translúcida camada de tule cristal. Nunca sairia da moda, o romantismo nunca sai de moda, pensava ela.
O vestido assim dobrado na caixa fazia parecer uma cauda de peixe com suas escamas cintilantes que iriam amarrotando-se e rachando com o tempo. Mas a onda estava chegando com força total e talvez alcançasse um pedaço da areia onde antes nunca havia chegado. Gostaria ela de ser mesmo um peixe e desaparecer na tormenta. Seria a glória da loucura!, mas não, - não, pensava ela. O mar tem seus momentos calmos e lúdicos, daria um tempo e, de certa forma, a deixaria em paz.
Ao menos naquele dia.

Sandra Puff

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

PJ Twenty - Pearl Jam 20 Anos - O Filme


Entre trabalhos, a roupa lavada, a casa, afazeres outros, o almoço na mesa, fui ao cinema ver PJ Twenty, foi no dia 20, coincidência ou acaso, nesse dia a fita comemorava os 20 anos da banda Pearl Jam, já falada aqui em outro post.
Eu e o Giovani adoramos, foi uma época em que vivenciamos o nascimento do grunge, mais conhecido pelo estilo das roupas xadrezes...rs, porém o estilo musical grunge bebeu nas fontes do indie rock, punk, metal e o rock alternativo. Essa mistura toda tornou o cenário do rock diferente do que havia até então, diga-se 1980.
De lá pra cá muitas bandas aparecerem  nesse cenário "sujo", como se diz no jargão da tradução do inglês, além de sujo, fala-se também em "porcaria", tudo bem, até concordo, a estética demonstra um quê sujinho e de porcaria apareceu muitas e como era esperado desapareceu, para alívio de todos, em um toque de mágica. Mas, como toda regra tem sua exceção Pearl Jam está ai para demonstrar isso, tudo bem que a banda nunca se encontrou no very stylish, nem mesmo dentro do estilo grunge, mas quem liga quando tem músicos bons além da conta, um vocalista que sabe fazer letras que demonstram uma catarse a cada música.
Edward Louis Severson III, vocalista conhecido como Eddie Vedder tem uma história de vida bastante atípica que o deixou marcas para sempre. A mãe de Eddie vivia com um advogado que o adotou, este era o "pai" que Eddie supunha. Aos 13 anos a mãe resolve lhe contar a verdade. Foi um choque que sempre aparece em forma de revolta nas letras.
A adolescência era difícil, o momento foi desconcertante, de garoto tímido passou a adulto introspectivo que gostava de surfar e escrever. Em suas letras o garoto "solar" metamorfosea-se em bicho revolto, sedento, a face deixa transparecer um pouco de loucura, uma sombra noir povoa o cenário místico de suas músicas.
É ver para crer na Turnê South America 2011 - Brasil - Dias 03/04/06/09/11 Novembro!
Veja o próprio Eddie Vedder contando coisas importantes em Alive.



Fica  aqui o Trailer do Filme - Pearl Jam Twenty - A música de fundo é Given To Fly[amo], Eddie Vedder é entrevistado por David Lynch - Diretor, Roteirista...


Sandra Puff

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM - 2011


O Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM - Acontece nos dias 22 e 23 de Outubro de 2011. O Total dos inscritos é de 6. 221. 697. Todos concorrem a uma vaga à Universidade, lembra-se que o resultado do ENEM garante pontos para o Pró-Uni e o Fies.

O ENEM divide-se em 4 áreas distintas:
- Ciências Humanas e suas Tecnologias;
- Ciências da Natureza e suas Tecnologias;
- Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Redação;
- Matemática e suas Tecnologias.

Não esqueça que a Redação é Dissertativa - Argumentativa
E que, Redação em Branco ou até 7 linhas é considerado texto insuficiente.

Esse Post é só um lembrete.

Mais dicas: Aqui . Deixe sua pergunta em Comentários.

domingo, 11 de setembro de 2011

Essa Sanidade que nos faz Loucos

Um dos últimos manicômios que ainda restava, abrigava dois loucos que, numa remota convivência fora deste local, se amaram um dia...
_ Tu eras louca, louquinha das ideias e ações...
_ É, eu sei disso faz tempo! Tu adoravas repetir isto sempre, lembrar da minha loucura. E você, hein, já caiu em si que vivemos em um manicômio, já parou para pensar que não é visita?
_ Eu sei...tu lembras disso toda hora!
_ Oras...a vida toda era você quem acusava primeiro, veja só, você! Eu lembro daqueles tempos, a tua repetição...que não só eu era doente da cabeça como também do físico, lembra? Fazia questão de dizer que da minha cabeça saiam borboletinhas dançantes.
Os dois juntos, mas sempre solitários dos outros, sentados naquele banquinho de madeira no meio do pobre jardim a observar besouros cuidadosos escondendo-se na terra.
Suas roupas simples. Brancas meio amareladas. Bocas rachadas, secas, chinelos nos pés de ambos. Os cabelos que um dia fora sedosos, hoje secos, sem corte. As mãos entrelaçadas, às vezes um ou outro jogava a cabeça para trás, fechava os olhos e respirava profundamente. De alguma maneira eram livres.
Tudo era tão simples, agora, tão humildes um com o outro. Loucamente eram gestos de amor.
Num cantinho daquele jardim quase sem flor, ele parte o caule de uma florzinha e coloca no cabelo dela, que ri descompromissada. Era tudo o que queria quando sua loucura ainda não era tratada. Mas, claro que o tratamento, aqueles remédios-venenos, agora, mascaravam os desejos loucos. Os dois!, é, os dois agora eram comedidos, ternos, agiam como românticos.
Eles passavam os dias assim: alimentação simples e para o banho água quase fria e sabão [água fria fazia parte do tratamento]. Roupas simples, sempre as mesmas.
Alimentados e asseados dirigiam-se para seus quartinhos sem nenhuma decoração, a não ser o copo de vidro com uma Hortência dentro acompanhada de joaninhas assustadas.
Na cabeceira da cama havia um livro, cada um tinha o seu e sempre que um terminava de ler pedia o do outro emprestado. Sempre as mesmas atitudes e os mesmos livros [mas isso era para que não esquecessem que amavam a leitura]. Ao dormir, cada um pensava no que havia feito naquele dia, [embora que não houvesse muita coisa a fazer, ou sempre as mesmas coisas] e pela manhã contavam um ao outro.
Sonhos, devaneios, pesadelos, delírios, assim é a noite, às vezes calma, outras em eclipse total.[ZZZZzzzzZZZ!!!!*$*!!!!zzzzzzzzzzz]
Novamente no jardim os mesmos gestos, tudo sempre igual...Mas os olhares não! Eram olhos coloridos que não haviam enlouquecido, que não lhe faltavam as lembranças das coisas passadas. Eram olhos que se olhavam e se perdiam dentro de cada um e que ainda enxergavam a beleza da alma.
Era o que restava!


domingo, 4 de setembro de 2011

O Espelho: Simbologias, Literatura e Arte




A primeira definição de espelho é de uma superfície polida que reflete luz ou imagem ou no sistema figurado tudo que reflete ou reproduz um sentimento. Em analogia com a palavra especulo dá origem ao ato de especular, de mirar, de procura. Porém, o espelho é mais complexo do que diz a nossa vã filosofia.1 

A literatura tem um campo riquíssimo em verso e prosa sobre o espelho. Sylvia Plath o utilizou em verso no poema The Mirror, [O Espelho]. Alice no País das Maravilhas2 se transporta a outra esfera através do espelho. A madrasta em Branca de Neve3 o utiliza como objeto mágico.
As narrativas de terror o usam para evidenciar que a personagem não possui reflexo ao estar diante dele. Kafka, em seu conto O Espelho o utiliza para atormentar seu personagem onde o mesmo deve-se mirrar todos os dias e ver seu sofrimento crescente. Oscar Wilde o torna seu objeto narcísico em O Retrato de Dorian Gray,4 e se vê decrépito no retrato para seu próprio horror.
Stevenson em O Estranho Caso do Dr.Jekyll e Mr. Hyde5, a personagem do médico nunca teve um espelho em seu laboratório, mas a partir das transformações ele transporta um espelho para o local para certificar-se que ele realmente tem um duplo. Poe utilizou o objeto em muitos contos, entretanto, um que se sobressai é em O Retrato Oval.6
Em uma passagem de As Mil e uma Noites7 há menção ao espelho em que o gênio presenteia o príncipe Alasnam, o presente tem o poder de lhe conferir se poderia confiar na pessoa por quem estivesse apaixonado. E também em Geoffrey Chaucer em Os Contos de Canterbury8, no conto O Conto do Escudeiro, o rei Cambinskan recebe um espelho do rei da Arábia, o presente mágico tem os poderes do homem conferir se alguma adversidade está por chegar, ou revelar os amigos e inimigos e também se por alguma moça se encantar enxergará sua traição caso aconteça.
Segundo o antropólogo e estudioso da mitologia Colbert, “John Dee (1527-1608), um dos magos favoritos da rainha Elizabeth I, da Inglaterra, costumava usar o espelho para fazer profecias”.9 Assim como recurso mágico, os espelhos podem servir de portais para outra dimensão, outros mundos como citado por Lewis Carroll, pode ser representado ou ser análogo aos metais, à água, a retratos, aos lagos, espelhos d’água.
Aparece também nas lendas folclóricas, no mundo fantástico e dos espíritos. É sempre um objeto ao qual nos miramos ou admiramos com um certo cuidado, receio. Afinal a imagem que se vê ao espelho não é real, e sim, virtual, desse modo, a imagem real não está necessariamente no reflexo do mesmo e sim atrás dele, ou seja, o espelho mostra nossa imagem, mas em sentido contrário, oposto ao que vemos, chamamos esse fenômeno de enantiomorfismo.10
Um bom exemplo desse fenômeno é quando a criança escreve com muita facilidade as chamadas letras espelhadas e com a mesma facilidade formam palavras, o que é denominado por escrita espelhada. Assim que colocamos as letras ou palavras em frente ao espelho conseguimos ler corretamente.
O espelho é dúbio, enganador e ilusionário. Rosset informa que o espelho “oferece não a coisa, mas o seu outro, seu inverso, seu contrário, sua projeção segundo tal eixo, ou tal plano”11.

REFERÊNCIAS
1 SHAKESPEARE, William. Hamlet. Tradução de Millor Fernandes. Porto Alegre: L&P, 1997. Ato I, Cena V. [Paráfrase de “nossa vã filosolia”].
2 CARROL, Lewis. (pseudônimo); DODGSON, Charles Lutwidge. Alice no país das maravilhas. Tradução: Rosaura Eichemberg. Porto Alegre: L&PM, 2001.
3 GRIMM, Jakob e Wilhelm. Contos de Grimm – Branca de Neve. Tradução de Lenice Bueno da Silva. 8 ed. São Paulo: Ática. 2000.
4 WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. In: Obras completas. 5. ed. Tradução de Oscar Mendes. São Paulo: Nova Aguilar, 1961
5 STEVENSON, Robert Louis. The Strange case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde. Op. cit., 1886.
6 POE, Edgar Allan. O retrato oval. Histórias Extraordinárias. Tradução e Adaptação de Clarice Lispector. Rio de Janeiro. Editora Ediouro. 2005.
7 TAHAN, Malba. As mil e uma noites. Tradução de Antoine Galland. Rio de Janeiro. Ediouro, 2000. V. 2.
8 CHAUCER, Geoffrey. Os contos de Canterbury. DVD. 1972.
9 COLBERT, David. O mundo mágico de Harry Potter: mitos, lendas e histórias fascinantes. Tradução de Rosa Amanda Strausz. Rio de Janeiro: Sextante, 2001, p. 98.
10 Esse fenômeno se chama enantiomorfismo, ou seja, no espelho plano objeto e imagem são enantiomorfas. Isso explica porque quando levantamos o braço direito a nossa imagem levanta o esquerdo, e também o fato das ambulâncias e carros de bombeiro terem os seus dizeres escritos  dessa forma na sua frente. Observe que o que está escrito nesses veículos é para ser lido pelo motorista, que fará isso através do espelho retrovisor. Desse modo, para o motorista, a mensagem aparecerá de maneira correta. ENANTIOMORFISMO. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/fisica/ult1700u33.jhtm>. Acesso em: 22 nov. 2008.
11 ROSSET, Clément. O real e seu duplo: ensaio sobre a ilusão. Op. cit., 1976, p. 65.


Autora: Sandra Puff