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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Revolutionary Road - Foi Apenas um Sonho


Ontem mesmo eu passava os olhos em uma revista e chamou-me atenção uma entrevista perguntando o que era ser “normal”, realmente eu não sei até onde vai a normalidade, o melhor seria perguntar onde começa a “anormalidade”, enquanto a ciência ferve e mexe um frasco de erlenmeyer surgem “novos” conceitos que já eram velhos, então o negócio começa a esquentar e muitos cientistas queimam os dedos e as revistas científicas começam a lançar tudo quanto é artigo científico. É o tal negócio, dos erros e acertos, erros e acertos e isso me fez divagar sobre um filme que vi faz um tempinho, mas não custa registrar e, também, porque no elenco está minha diva [sem que outra a ultrapasse] como protagonista.

Frascos de Erlenmeyer

Na década de 50, se o sujeito sofresse de “depressão” – chamaremos assim, era o mesmo que ser rotulado de louco. O mais intrigante é que a medicina psiquiatra ainda não diferenciava as várias doenças mentais, não havia uma nomenclatura para os diversos distúrbios da mente e o paciente em geral era “retirado de cena”, não como uma forma de tratamento e sim como um "jeito" de proteger a sociedade deste doente.1
Nessa mesma década houve o retorno da ideia do american way of life, o qual já havia sido explorado décadas antes. Infelizmente muitas coisas estavam fora do lugar na sociedade e, dessa forma, era transferido às pessoas que o jeito americano de viver era o mais importante, infalível, era isso que queriam mostrar, vender, mas não era bem assim. Havia um desconforto entre os indivíduos, uma desilusão que alguns não conseguiam superar.
Esse exemplo do modus vivendus americano foi mostrado no filme Revolutionary Road2, do diretor Sam Mendes, com Kate Winslet e Leonardo DiCaprio como protagonistas. Se formos desdobrar o título do filme chegamos ao "xis" da questão. O casal mora na rua da “revolução”, bem sugestivo, mas que revolução é essa?


A narrativa começa com um encontro entre as personagens de Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, ambos sonham, tem perspectivas para o futuro. Logo se casam, chegam os filhos, em uma época onde a pílula anticoncepcional ainda não existia. A personagem de Kate sonha em ir para Paris, pois só ela sabe que seus sonhos foram por água abaixo nessa relação hipocritamente estável e com um filho atrás do outro e, por esse motivo ela sente as dores da alma, [ainda não classificadas as doenças mentais]. O marido não percebe que sua esposa está à beira de um precipício e a saída, não entende ele, é fazer essa viagem, mudar de ares.

Quando chegam a um acordo, compram passagens, fazem planos, avisam os vizinhos e amigos sobre o novo destino, o que para os mesmos parece ser uma loucura, pois este é o modo de vida americano, trocar para quê? Kate encontra-se grávida por mais uma vez e o marido decide cancelar a viagem e se conformar com a posição em que estão, ou seja, entram na fôrma estabelecida por aquela sociedade, ou seja, se conformam, viram moldes de docinhos, uns iguais aos outros, [produtinhos em séries].
A vizinha bisbilhoteira tem um filho e vê em Kate a única pessoa que poderia conversar com o mesmo, um PhD em Matemática, que por algum motivo está com problemas mentais, sendo tratado com eletrochoques num hospício. O casal aceita a visita do matemático, que em certa altura do filme convida-os para uma caminhada. No passeio ele percebe que Kate parece não fazer parte daquele local, e discretamente conta como é seu tratamento na clínica. E então, num fio de esperança pra SI, que ela, ao achar que pode se curar de sua aflição, pergunta ao matemático como ele se sente, pois aparenta estar muito bem. E ele responde que está bem, mas que os números foram todos embora de sua cabeça por causa dos eletrochoques e sente-se muito distante de sua realidade pré-clínica. E surge um silêncio entre todos. Daí pra frente, segue o filme, há vários momentos, várias perspectivas e nuances.

E a revolução? Espero que esteja na ótica de cada um ao ver sutilezas em cores profundas!


Sandra Puff



REFERÊNCIAS
1Transtornos mentais que mais tarde foram nomeados como “doença maníaco-depressiva, depressão, transtornos ciclotímico de humor, transtorno unipolar ou bipolar e em último grau a esquizofrenia estavam todos ligados à ideia da loucura, os pacientes eram restritamente negligenciados pela sociedade naquele tempo, hoje, paradoxalmente, esses transtornos, de tão comuns e populares são banalizados em geral. UMPIERRE, Vera M, Psicopatologia. Disciplina Ministrada. Curso de Psicologia. Puff, Sandra. FURB. 2008.
2 REVOLUTIONARY ROAD. Direção de Sam Mendes. 2008. No Brasil: Foi Apenas um Sonho. 2009.

16 comentários:

  1. Oi querida Sandra!!!

    Vou procurar esse filme pra ver, gostei da trama!!! É amiga e não faz tanto tempo assim, a minha mãe já morreu, mas eu e minhas irmãs agora, relembrando, a gente tem certeza que minha mãe tinha depressão, mas a gente nem sabia o que era isso, pra gente era doença de que não tinha o que fazer ou pessoas ricas, rsrs, quanta ignorância, neah???

    Bjinhos e tenha uma linda semana!!!

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  2. Tudo o que envolve o cerebro humano é complexo e muito interessante.
    Um abraço

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  3. Oi Sandra!
    Ótimo seu texto, embasado neste filme. O que regulariza o normal e o patológico, loucura e sanidade, senão conceitos diferenciais, do que se espera como resposta de um indivíduo ao meio social.
    Existe uma pressão social, uma demanda para que o sujeito aja de acordo com um pré-estabelecido.
    Quem não consegue se estabelecer neste contexto criado, fica a margem.
    Amiga, vou ficando por aqui, o assunto dos seus posts são ótimos.
    Beijocas e ótima semana.

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  4. Oi Sandrinha,
    comecei a ver este filme e parei(não lembro por que),quando ela se descobre novamente grávida e os planos da viagem vão por água abaixo.
    O filme, me lembra"Uma mente brilhante".
    Acredito que são situados no mesmo período de tempo,dialogando com os transtornos mentais que ainda não haviam sido diagnosticados oficialmente, conforme vc destacou acima.
    A tentativa de invisibilidade dada aos portadores perdurou por décadas lá como aqui, num esforço conjunto família-medicina da manutenção do padrão ideal de vida(americano),o qual foi largamento difundido e copiado em território tupiniquim.
    Vou locá-lo e rever o tema.
    Bjos,
    Calu

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  5. Oi Sandra, nao conheço, mas confesso que fiquei curiosa. Obrigada pela dica.
    Bjo e otima semana

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  6. ...ah
    o homem, este pequeno aprendiz,
    e seu descontentamento eterno.

    bjs, minha flor de formosura!


    aprendo tanto contigo, moça linda!

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  7. Oi, Sandra!
    Também já vi este belo filme - uma vez em DVD e outra pela tv a cabo. Muito bom realmente.
    O engraçado é que o personagem que faz o papel de perturbado psicologicamente, mostra-se o mais lúcido de todos ali.
    Um filme interessante para se ver e tirar nossas próprias conclusões, e eu adoro a Kate Winslet.
    beijos cariocas

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  8. Olá...

    Beth, você olhou pela mesma ótca que a minha...o matemático vindo do sanatório é tão lúcido que não consegue se adequar ao meio daquilo tudo que está acontecendo e vê na personagem de Kate que ela está também sucumbindo ao que querem, "a felicidade forçada e imediada"...

    Calu, esse filme também me lembrou uma mente brilhante, talvez tenham se inspirado no John Nash, o Matemático, aliás o McLean Hospital, ligado à Universidade de Harvarde, em Massachussetts, era e ainda é enorme, mas na década de 50, era usado pelos professores e alunos da pós-graduação iam desfrutar de um retiro nessa instituição. Os Poetas, Astistas, Dependentes Químicos, todos estavam lá, alguns nomes além de Jonh Nash, Sylvia Plath, Ray Charles, James Taylor entre outros. Tudo começou lá e acredito que a ciência avançou muito desde então.

    Ah, mais instituições assim aqui no Brasil, hein?
    Apoio à Ciência e a quem precise em todos os sentidos.

    Neusa, Elvira, Maruska, Alice e Vivi...
    Beijos!

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  9. O limite entre o "normal" e o "anormal" não é uma fronteira claramente demarcada. É uma terra de ninguém, nebulosa, elástica e mutante, na qual nascem obras-primas - como esse filme, que ainda não vi (mas acredito em você).
    Beijos.

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  10. BOM DIA SANDRA!

    O FILME É BEM INTERESSANTE MAS A SUA EXPLANAÇÃO É SENSACIONAL! PARABÉNS!PARABÉNS! PARABÉNS!

    SEU TEXTO ME FEZ LEMBRAR DE JOHN LENNON QUANDO DISSE:

    "Eu tenho o maior medo desse negócio de ser normal."

    E DISSE TAMBÉM QUE:

    "A Insegurança e a frustação levam o homem à violência e à guerra"

    BEIJOS E FIQUE COM DEUS!

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  11. Olá,
    Obrigada Amigos pelas Postagens...
    Juju, seu comentário foi enriquecedor, igualmente ao do R.R.
    Aprendo sempre.
    Não deixem de ver esse filme, falo da Kate Winslet, não só porque a acho linda...rss, tem atrizes muito mais bonitas que ela...mas não se criaram no teatro inglês com ela assim tão jovem, atriz que conhece obras de autores imortais na literatura, se criou fazendo os famosos clássicos da BBC de Londres. Kate não tem vaidade, pudores, sabe lidar com a dramaticidade que o bom texto exige. Não vive sorrito à toa nas telas para ser a queridinha. Realmente é "A Atriz", nominada ao Oscar várias vezes, e consagrada a ele, enfim!
    Bjs,

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  12. Que vergonha, Sandra! Eu não conhecia esse filme. Preciso assistir. Valeu a dica! Beijos!

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  13. Meu sapatinho de cristal!
    Assisti esse filme sim pelo encantamento do casal que é uma prova incontestável do talento de Leonardo e de Kate, ambos estão estupendos no filme, ela dá um show e nem precisa falar para expressar tudo aquilo que sua personagem está sentindo, é de assustar a forma com que ela entrou de corpo e alma para atuar.É um filme imperdível...
    Bjs minha linda!

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  14. Sandra! Divulgando bons filmes, e mais o talentoso Leonardo , muito fascinante.E tudo que você posta no seu blog é de muita valia,e muitas vezes não sabemos se o filme é bom ou não, com sua dedicação se torna prazeirozo em saber.Amiga tem Mimo de Natal para os amigos,quando puder vai la e pega ok.Ah, vc conseguiu fazer o copyscape,eu tentei deixar aqui o banner,mas como tem a imagem o comentário não aceita,Beijos no seu coração e um feliz final de semana.Nati

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  15. Oi, Amigos...

    Esse filme é uma reflexão e tanto.
    A Kate Winslet não precisaria nem falar, alguém citou, é muito atriz. É uma das poucas atrizes que ainda não mudou sua fisionomia, ou retirou rugas e paralizou suas expressões, além de que é linda.
    Vale conferir.
    Abraço,

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  16. Oi Sandra...não sei se você ainda atualiza o seu blog, mas hoje li o resumo que você escreveu desse filme e fiquei curiosa pra assistir. Me fez refletir. Um beijo no coração.
    Kenia

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